Meu marido está em uma fase avançada do Alzheimer e do Parkinson. Recentemente, também enfrentou um AVC sistêmico que trouxe novas limitações para o nosso dia a dia. Ele fala pouco, quase nada, e seus movimentos já não são os mesmos. Mas, mesmo com todas essas dificuldades, existe algo que não se perdeu: ele não abre mão de assistir ao Programa Viver Sertanejo.
Pode parecer um detalhe simples, mas para nós isso tem um valor imenso. O olhar dele muda quando a música começa, quando vê os rostos conhecidos, quando as canções que marcaram épocas soam no ambiente da nossa casa. Ainda que não fale, ainda que não expresse com palavras, o brilho nos olhos e a serenidade no rosto mostram que aquela atividade continua a fazer sentido.
Manter o paciente em contato com aquilo que gosta é essencial. No Alzheimer e no Parkinson, as rotinas e memórias vão se fragmentando, mas a conexão emocional permanece. A música, os programas favoritos, as histórias de vida, os gestos cotidianos — tudo isso ajuda a dar ao paciente uma sensação de pertencimento e continuidade.
Como esposa e cuidadora, percebo que não é apenas sobre “ocupar o tempo”. É sobre respeitar quem ele é, o que faz parte da sua história, os gostos que o acompanharam por anos. O Viver Sertanejo não é apenas um programa de televisão: é um laço entre ele e sua própria identidade, uma lembrança viva do que gosta, do que o alegra e do que o conecta com o mundo ao redor.
Esses momentos são também preciosos para mim. Porque ao vê-lo atento à tela, percebo que o amor, a música e as pequenas alegrias continuam sendo pontes, mesmo quando as palavras já não fluem.
Se você cuida de alguém com Alzheimer ou Parkinson, não subestime a força dessas práticas. Manter uma música favorita, um programa querido, um passeio simples ou um hábito cotidiano pode transformar o dia do paciente — e também o nosso, que caminhamos ao lado deles.
Meu marido, mesmo no silêncio, me ensina isso todos os dias. E eu sigo aprendendo com ele que a vida continua a florescer nos detalhes que nos fazem bem.

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