Quando o Alzheimer muda a casa, mas não apaga o amor

Às vezes a vida vira a página sem pedir licença. O Alzheimer chega assim. De mansinho, primeiro confundindo pequenas coisas, depois mexendo na rotina, até que percebemos que a casa inteira precisa se reorganizar para acolher esse novo visitante que ninguém convidou. Mas também descobrimos uma força que não sabíamos que tínhamos.

Missionária Regina,
Seu filho Henrique, Cuidador de Fernando

Conviver com o Alzheimer é aprender a olhar para o amor de outro jeito. A comunicação muda, os gestos mudam, o jeito de cuidar muda, mas o vínculo permanece firme, silencioso e teimoso como um amanhecer que sempre volta. Há dias luminosos, há dias nublados, e há outros em que a gente respira fundo, abraça a paciência e segue. Porque quem ama, permanece.

É curioso como pequenas coisas ganham um brilho novo: um sorriso breve que aparece do nada, um olhar que reconhece mesmo sem palavras, um toque que diz “estou aqui”. Tudo isso vira tesouro. O que antes era automático vira celebração diária.

E no meio desse cenário, descobrimos algo essencial: não cuidamos só da pessoa com Alzheimer, mas também de quem somos. Cuidar do outro exige que cuidemos de nós mesmas, para não perdermos nossa identidade. É como manter uma chama acesa mesmo quando o vento passa mais forte.

O Alzheimer não tem cura, mas o amor tem um poder que ele não toca. Ele transforma. Ele sustenta. Ele escreve novos capítulos, ainda que diferentes dos que imaginávamos. E se há algo que este caminho me ensinou, é que podemos viver com dignidade, ternura e esperança mesmo em meio ao inesperado. É possível rir, lembrar, reinventar e seguir, porque a vida continua chamando a gente para vivê-la com coragem.

E, de alguma forma, cada experiência compartilhada reacende outra luz por aí. Uma família se sente menos sozinha. Outra descobre um jeito novo de cuidar. E assim vamos, como uma corrente de mãos dadas atravessando a tempestade.

No fim, quando olhamos para esse percurso, percebemos que o Alzheimer muda muita coisa, mas nunca apaga o essencial: o amor que construímos antes dele chegar.

Lucinda Maria Freire Magalhães
Teóloga com Extensão em Aconselhamento Bíblico
✨ Vivências da Lucinda

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